Ao longo de mais de 10 anos já vividos no ambiente universitário, entre a graduação e a pós, é perceptível a mim, como observador e vivente da comunidade acadêmica que nossas universidades insistam em permanecer elitistas e fechada a drásticas (e boas) mudanças. Especialmente nas áreas das engenharias e saúde, observa-se que é vedado aos pobres frequentar quaisquer cursos destas áreas. Mesmo os trabalhadores que frequentam, fazem um esforço hercúleo para conciliar as jornadas, pois a oferta de componentes curriculares nas universidades públicas é quase que exclusivamente diurna. Os cursos ofertados nas áreas em epígrafe, em período noturno, são uma exceção à regra, se é que existem.
Quando os trabalhadores não podem frequentar uma universidade pública, pela incompatibilidade de horários (e de casta social), resta sacrificar seus parcos proventos e pagar pelo conhecimento e obtenção do almejado título, em instituições privadas. Em sua maioria, meras máquinas de emitir diploma, sem compromisso formar cidadãos com o mínimo de senso crítico e de conscientização da responsabilidade dos seus alunos com a sociedade, restringindo-se a uma relação puramente mercantilista (cliente versus fornecedor).
A exclusão dos pobres pela própria universidade inicia-se ainda no âmago do processo seletivo, muito antes de se adentrar nela. Políticas públicas de acesso e universalização ao ensino superior foram implantadas em anos passados, dando outra cara à universidade, que ficou diversa. Criando assim oportunidades para que milhares de pessoas pudessem ter, enfim, perspectiva de vida e de consequente progresso pessoal, profissional e social, sendo amplamente beneficiadas (das quais este autor inclui-se), deixando assim a universidade dinâmica, avivando-a. Todavia, faltou a esta assimilar o novo contexto.
Porém, mesmo após a frágil consolidação destas políticas (que passam por revisão no presente ano, fiquemos vigilantes!), ainda mais nesses tempos no qual vivemos, onde a universidade é vista como uma inimiga (imaginária, diga-se de passagem), por parte infame de nossa casta política e social, a universidade pública insiste em permanecer engessada, elitista e excludente. Ela mesma define quais cursos são destinados às elites e quais outros restam à classe trabalhadora. No fim, o termo universidade é vazio de propósito (nos sentidos doloso e de finalidade).
Além destes problemas, meio acadêmico é bastante pedantista, sendo a mácula mais grave da universidade. O conhecimento, que deveria encantar, é utilizado sistematicamente para humilhar. Especialmente aos que estão como discentes, na graduação e na pós, sem falar na briga de egos existente. Se Hans Staden estivesse novamente no Brasil, e frequentasse o âmbito universitário, descreveria ver novamente uma fagocitose digna de Cunhambebe, em todos os níveis (discentes e docentes). Isso desgasta bastante a comunidade acadêmica, desnecessariamente.
O resultado disso é uma universidade distante da sociedade, fechada em si, narcisamente, como se estivesse no próprio Monte Olímpo, servem a esta de forma superficial, ainda assim minando e restringindo o acesso, como já dito anteriormente.
Devemos todos nós, que fazemos parte da universidade, seja como docentes, discentes ou servidores, termos a consciência de que esta só será elevada ao grau de reconhecimento tão esperado quando tivermos em mente que a universidade deve ser POPULAR, sem que isso acarrete numa perda de qualidade naquilo em que ela se propõe: formar cidadãos altamente qualificados e conscientes de seu papel perante a sociedade, que investiu em seus estudos e dando retorno a esta, em forma de propor melhorias ao estado de bem estar social.
A ampliação do acesso ao ensino superior público e gratuito permitiu uma maior qualidade dos seus alunos, e não a degradação, como imaginado antes por uma minoria bazófia da comunidade acadêmica, contrária preconceituosamente à política de cotas, por exemplo, mas sim, como forma de aproximação e até mesmo aglutinação dos anseios esperados pelo povo, fortalecendo-a. É preciso franquear e universalizar ainda mais seu acesso, tal qual fizeram, pioneiramente, os estudantes de Córdoba, em 1918.
A universidade é capaz disso. Falta se descobrir.
A universidade está entre a luz e as sombras, ainda. Foto da fachada do IFPE, campus Recife, Alma Mater do autor (Foto do próprio).
Jorge Guerra Pires, editor
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Olá Oscar, em Mariana tem uma universidade aberta. Adorei a iniciativa. As pessoas podem estudar, sem seleção, pelo que pude entender. Cursos são ofertados, inclusive superior.
Como isso se relaciona ao seu conceito?
seria o mesmo?
Valeu! Adorei o escrito, bem reflexivo.
"Ao longo de mais de 10 anos já vividos no ambiente universitário, entre a graduação e a pós, é perceptível a mim, como observador e vivente da comunidade acadêmica que nossas universidades insistam em permanecer elitistas e fechada a drásticas (e boas) mudanças." Oscar
"Mimosa pudica é uma planta interessante: basicamente, quando se encosta nela, ela se fecha, encolhe; acredito que deva ser um sistema de proteção.....mencionei para ela essa minha opinião da forma como o mundo acadêmico brasileiro parece funcionar: como essa flor. " Jorge Guerra Pires, Meus ensaios selecionados do Medium: Uma crítica ácida ao mundo acadêmico, em construção