Punidos por critérios: quando as regras não favorecem o pesquisador
Punidos por métricas
consequências percebidas e não percebidas na pesquisa científica
Comprar por 1.000 pontos no plano fidelidade
Sobre a obra
“Outra observação feita por Taylor foi a de que
a produtividade também está relacionada com
o rendimento máximo do trabalhador.”
Não consigo identificar com precisão quando começaram as métricas que vemos hoje, mas lembro de leituras em torno de Taylor (taylorismo), no meu curso de engenharia de produção. Lembro de fazer trabalhos onde se media tudo, lembro que a base do taylorismo era o tempo.
A maioria das pessoas, mesmo que de forma inconsciente, fica intimidada com alguém que publica muito: geralmente, nem consideram os tópicos, as áreas e contexto. O número em si geralmente assusta. Seu eu disse para você que o Brasil toma um prejuízo anual de 10 milhões de reais, a palavra prejuízo vai ficar, sem nem mesmo colocar esse número em perspectiva: Alison Ledgerwood destaca nossa dificuldade de lidar com resultados negativos. Eu mesmo recusei um postdoc, olhando agora para trás, porque o pesquisador não publicava há anos. Ou seja, percebendo ou não, isso entra no nosso inconsciente. Ver a sessão desta obra “Publish or Perish na vida do jovem pesquisador”.
Alguns parecem argumentar que a publicação em massa (Publish or Perish), o produtivíssimo acadêmico, é uma contaminação do meio acadêmico desta forma de pensar, aparentemente iniciado nos Estados Unidos. Nessa lógica, tudo pode ser resumido a quantidade, quanto mais melhor.
Toda métrica, pelo menos as que conhecemos hoje, simplifica a realidade: e o preço que se paga é a simplificação da inteligência, o achatamento da criatividade, a diminuição do intelecto humano. Deixando grande complexidade de fora: umas mais, outras menos, mas toda métrica procura simplificar o que é complicado.
Geralmente, isso é feito para se tomar decisões: no mundo acadêmico, quem vai ganhar o financiamento da sua pesquisa, e mais ainda, quem vai ficar com o financiamento todo, em alguns casos. Coloca-se tanta fé na métrica que cometem o maior erro de investidores amadores: colocar todos os ovos na mesma cesta. Qualquer investidor minimamente educado sabe que devemos diversificar. Diz um dos maiores presidentes dos Estados Unidos "An Investment in knowledge pays the best dividends'' Benjamin Franklin.
Por que da nossa obsessão com métricas? Por que estamos cada vez mais presos com métricas, criando armadilha sociais e autodestrutivas para todos? Como chegamos a um dos maiores acúmulos de capitais em mãos únicas da história sem poder fazer nada? Por que métricas justificam a meritocracia de forma errada? Por que queremos reconhecer financeiramente muitos profissionais como pesquisadores e professores, mas falhamos miseravelmente na prática? Por que insistimos em alimentar uma máquina que não produz riqueza real, somente artifícios monetários? Por que exploramos alguns em nome de outros, justificando com métricas fracas? O pior de tudo: por que exploramos os mais fracos e jovens em nome dessas métricas tortuosas?
Infelizmente, essas são perguntas que eu mesmo gostaria de ter as respostas. Contudo, vou te apresentar alguns insights. Como vi Daniel Markovits dizer em The Meritocracy Trap: um dos maiores problemas de se criticar a meritocracia é a falta de uma forma alternativa. Eu sempre critiquei as provas dizendo “prova não prova nada”, e realmente não prova. Mas qual seria a alternativa?
Acredito que deveríamos pelo menos tentar, mas preferimos manter o status quo, mesmo quando qualquer pessoa minimamente sensata percebe o problema e o precipício que estamos indo em direção.
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