De forma simplificada, o sistema de votação funciona assim:
Indo direto ao ponto: o pessoal parece confundir essa cadeia de eventos.
Não me parece que podemos falar de fraude se ocorre problemas antes da cabine. Digamos, se houve problemas na contagem de votos, isso seria fraude, mas antes não é! Para evitar esses erros, o sistema eleitoral foi melhorado com o tempo. Um exemplo seria a impressão da contagem dos votos antes do início para evitar urnas grávidas, processo que ocorria antes no voto impresso.
Uma prática comum pelo bolsonaristas, inclusive o presidente fez isso desde o início para chamar seus fanáticos: atribuir funções que não são funções ao suposto inimigo, como forma de gerar raiva. Nesse caso, contra as urnas, contra o Tribunal Superior Eleitoral. Um exemplo seria acusar o STF de ser seletivo nas inclusões de propagandas nas rádios. Isso não é atribuição do STF! Antes de atacar, estudem! Leiam!
Outro exemplo seria a falta de conexões com a internet, para evitar ataques.
Seria o sistema 100% seguro?
Acredito que não, nenhum sistema é 100% seguro. Contudo, mais seguro do que o anterior, que realmente haviam fraudes. A grande diferença seria similar ao governo Bolsonaro vs. Lula: no governo Lula, era mais fácil ver a corrupção; Bolsonaro criou formas ou de tornar a corrupção legítima, como o orçamento secreto, ou colocou em sigilo, como o sigilo de 100 anos.
Como exemplo de tentativas de invalidar as eleições, sem sentido prático. Uma argumentação que ganhou força, inclusive aparece em um dos meus vídeos onde tento explicar em inglês, para o público internacional, que não houveram fraude. Uma das respostas, que curiosamente a pessoa colocou em várias línguas, inclusive japonês e Russo: algumas cidades somente tiveram votos do Lula. Isso prova a fraude. Na verdade, não, isso não prova. Houve também o oposto, algo que eles não mencionam. Essa forma seletiva de ver o mundo se chama tendência de confirmação.
O que é mais curioso: os dois lados tiveram esse fenômeno, mas os negacionistas somente apontam um lado[2] para criar confusão. Ou seja, o fato de uma cidade somente votar em um candidato ocorreu para os dois lados, contudo, algo que eles vêm fazendo, somente se faz barulho no contra, nunca pensando nos dois lados: isso se chama tendência de confirmação, um viés cognitivo, o mesmo bichinho que torna as fake news possível, somente se vê o que é de interesse, somente se repassa o que acredito.
Deixe-me explicar duas coisas importantes. Como exemplo alternativo, quando o pessoal do Bolsonaro tentou criminalizar as pesquisas eleitorais, uma questão científica, não política, somente colocaram no relatório os resultados que erraram, e não colocaram os que colocavam ele na frente[3]. Ou seja, somente enxergo aquilo que é contra mim, o mundo precisa e deve ser uma caixa de ressonância do meu saber: isso se chama paranoia, ou mesmo , burrice, fundamentalismo. Imagine Einstein tentando impor no universo uma quarta dimensão! Como brinco desde novo: você pode negar que uma pedra cai de uma forma, como determina a física, mas ela vai cair, e sugiro que saia da frente! A natureza não dá a mínima para os negacionistas!
“Duas urnas com resultados antagônicos numa só cidade. Em uma, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) garantiu todos os votos válidos do segundo turno. Na outra, 100% foram para Jair Bolsonaro (PL). Pode parecer roteiro de fake news, mas aconteceu em Charrua, no noroeste do Rio Grande do Sul.” O Globo
Sim, estatisticamente falando, isso é possível. Lembra do fluxograma (Figura 1)? Isso seria equivalente a dois cenários, todos possíveis: i) a cidade é unida, e se alinhou com somente um candidato; ii) houveram irregularidades, mas não nas urnas, mas com autoridades ou criminosos locais, isso é um problema não das urnas, mas sim para investigação pelas autoridades.
A compra de votos sempre foi uma prática: isso é um problema nacional, não do PT ou do Lula. Como exemplo. Meu pai ganhou uma mesada por apoiar o candidato local, e orientou todos a votarem nele; eu me recusei, e gerou conflito! Se alguém, por qualquer motivo, decidi praticar irregularidades em nome do Lula, assumindo que não houve pedido direto ou indireto, as pessoas precisam ser punidas.
Agora vamos olhar estatisticamente. 2,1 milhões de votos a mais para Lula, foi o resultado final. Onde uma pequena cidade tem esse número de habitantes?
As pessoas esquecem, ou mesmo não pesquisam: as urnas antigas tinham uma quantidade muito maior e fácil de fraudes. Entre eles, as urnas grávidas. O curral eleitoral é uma tradição maldita no Brasil, não do PT, não do Lula.
Houveram casos de igrejas forçarem seus fieis de votarem no Bolsonaro a ponto de pessoas saírem das igrejas, empresas fazendo o mesmo, forçando seus empregados a votarem no Bolsonaro. Quando vejo somente o erro do outro, isso se chama burrice, viés cognitivo para ser mais gentil e científico. Se existe sujeira, é sistêmica. Penalizar somente um lado seria justiça não-cega, seria justiça seletiva. Isso se chama barbárie.
“No Mato Grosso, apesar da vitória de Bolsonaro com 65,08% dos votos, áreas indígenas de Confresa e de outros quatro municípios (Porto Alegre do Norte, Campinápolis, Santa Terezinha e Peixoto de Azevedo) deram 100% dos votos válidos para Lula.” O Globo
Bolsonaro sentou fogo nos índios, por que um índio em sã consciente ia apoiar o Bolsonaro? Ou seja, nesse caso, houve uma alinhamento social, nada de errado, nada de irregular. Seria irregular proibir isso, proibir que pessoas voluntariamente se alinhem, consigam se organizar, e pensar no bem comum.
Imagine que estou jogando um dado. Cada face tem probabilidade de 20%. Agora imagine que criminalize ocorrer duas vezes a face 4, ou mesmo 6 vezes. A probabilidade, estaticamente, abaixo. Isso não é uma questão política, de criminalizar, mas sim uma questão científica, de ser estudada. Métodos precisam ser criados, estudados e proposto, testados. Resolver tudo nas leis seria exatamente a crítica que fazem ao STF.
[2] Em 147 seções eleitorais, Lula ou Bolsonaro tiveram todos os votos válidos, apesar da polarização. https://oglobo.globo.com/politica/eleicoes-2022/noticia/2022/11/em-147-secoes-eleitorais-lula-ou-bolsonaro-tiveram-todos-os-votos-validos-apesar-da-polarizacao.ghtml [3] Nova metodologia no segundo turno: parece que acertaram na mosca! https://www.jovempesquisador.com/post/nova-metodologia-no-segundo-turno-parece-que-acertaram-na-mosca
Ciência para não cientistas é um projeto que visa ajudar pessoas fora da academia a incorporarem nas suas vida a forma de pensar da ciência, sem precisar de um doutoramento ou mestrado.
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