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O paradoxo dos preprints: visibilidade sem emancipação?

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A ciência enfrenta problemas com publicação desde antes de se organizar como ciência formal. No início, apenas quem estava associado a grandes universidades podia publicar — a autoridade vinha da filiação. Com o tempo, surgiram os periódicos científicos: agora qualquer pessoa, ao menos em tese, poderia publicar, desde que passasse pela revisão dos pares. Mas não demorou até que esses periódicos se tornassem aquilo que haviam derrubado: novos guardiões do monopólio do conhecimento.


Então vieram os preprints. Rápidos, abertos e gratuitos, pareciam devolver à ciência a agilidade e a horizontalidade. Mas junto com eles veio também uma nova guerra de credibilidade. Sem revisão formal, preprints são vistos com desconfiança por muitos — mesmo quando trazem dados sólidos e metodologias rigorosas.

O ciclo se repete: libertar a ciência, apenas para vê-la reencarcerada em outras formas de poder.


Recentemente, ao atualizar uma versão de um artigo no MedRxiv — a versão médica do ArXiv — comecei a receber uma enxurrada de convites para publicar em periódicos. A princípio, poderia parecer um sinal de reconhecimento. Mas bastou uma leitura mais atenta para perceber o padrão: todos pagos. Nenhum convite vinha de periódicos realmente comprometidos com a ciência — apenas com o faturamento.

Esse episódio revela um paradoxo cada vez mais evidente no ecossistema da ciência aberta: os preprints oferecem visibilidade, mas essa visibilidade está sendo explorada por um mercado editorial que transforma a ciência em produto, e os pesquisadores em clientes em potencial.


Preprint: liberdade ou vitrine?


Os preprints nasceram como uma forma de democratizar o acesso ao conhecimento científico. Permitem que resultados sejam divulgados rapidamente, sem depender do ritmo lento e muitas vezes enviesado da revisão por pares tradicional. Mas ao se tornarem populares, também se tornaram rastreáveis — e com isso, alvos comerciais.

A publicação do preprint, que deveria ser um gesto de abertura, hoje atrai convites automatizados, promessas de publicação rápida e revisões “express” — todas com taxas salgadas, claro.


A segunda “revisão por pares”: a financeira


Estou atualmente submetendo um artigo à JMIR Publications, uma editora séria, indexada e respeitada. Mas mesmo ali, onde há revisão por pares de verdade, o custo de publicação gira em torno de US$ 2.500 a US$ 3.000. Solicitei a isenção total do valor — o que é possível —, mas, para isso, fui submetido a uma nova etapa de avaliação: agora, não da qualidade científica, mas da minha capacidade de comprovar necessidade financeira.

Isso revela um segundo filtro: o da aceitabilidade econômica. Uma nova forma de “peer review”, onde não basta que seu trabalho seja bom — ele também precisa ser “merecedor” de gratuidade.


O falso dilema da ciência aberta


Chama-se isso de open access, mas o nome é enganoso. O acesso é aberto para quem lê — não para quem escreve. E ainda mais fechado para quem não tem respaldo institucional, para pesquisadores independentes, de países periféricos, ou fora das redes de financiamento tradicionais.

É como se dissessem:

“Você pode publicar conosco, desde que consiga pagar. Caso contrário, tente nos convencer de que é digno de uma exceção.”

Esse modelo perpetua as mesmas desigualdades estruturais da ciência tradicional, agora com uma nova roupagem — mais simpática, mais digital, mas ainda excludente.


É hora de repensar o sistema


Se queremos realmente uma ciência aberta, precisamos ir além do modelo pago-para-publicar. Já existem caminhos possíveis:

  • Periódicos em acesso aberto sem APCs (os chamados diamond open access), como os da SciELO ou da RedALyC.

  • Jornais overlay, que fazem revisão por pares de preprints sem cobrar nada.

  • Consórcios públicos que sustentem financeiramente periódicos sérios, sem transferir o custo para os autores.

Enquanto isso não acontecer, a pergunta continua no ar:

De que serve a visibilidade dos preprints, se ela nos leva direto para os braços de um mercado que lucra com nossa urgência em publicar?










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